MARTIN KLIMAS
[...] Todas estas narrações sugerem que o criador do golem adquirira qualquer segredo obscuro. Contudo, ao fazê-lo, tinha transgredido a lei sagrada. Uma criatura criada pelo homem era uma blasfémia. A mera presença do golem constituía um aviso sobre a idolatria- e, assim sendo, chamava sobre si a própria destruição.
- O senhor diaria então- perguntei-lhe- que coleccionar arte é idolatria?
- Ja! Ja!- exclamou, batendo no peito.- Claro! Claro! e é por isso que nós, os Judeus....e quanto a este assunto considero-me judeu...somos tão bons nessas coisas! porque é proibido...! Porque é pecado...! Porque é perigoso...!
- As suas porcelanas desejam morrer?
Afagou o queixo.
-Não sei. É uma quetão muito problemática.
[...][...]
Teria eu agora a fineza de reflectir no facto de que Nabucodonosor aquecera a ardente fornalha onde metera Shadrach, Meshach e Abedenago, sete vezes mais forte do que a sua temperatura normal?
- Sete vezes, estou-lhe a dizer!- Utz acenou com a mão no ar.
- Está a querer dizer-me que Shadrach, Meshach e Abedenago eram estatuetas de cerâmica?
- Podiam muito bem ter sido- respondeu-me.- Resistiram ao fogo.
- Estou a perceber- disse.- Então o senhor acha que as porcelanas são seres vivos?
-Acho e não acho- soltou uma risadinha.- As porcelanas morrem no fogo e, depois, renascem.
O forno, tem de compreender, é o Inferno. [...]
UTZ , Bruce Chatwin, 1988, ed. Quetzal Editores
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