domingo, dezembro 10, 2006

sem link nem legenda

8 comentários:

menir disse...

Máscaras (não?) carnavalescas.

intruso disse...

a imagem dói,

(dói na cara)

linhas tortas disse...

...e com espírito de humor!

make up irreversível.

merdinhas disse...

A Máscara da Morte Vermelha

A 'Morte Vermelha' já há muito que devastara o país. Jamais peste alguma fora tão fatal, tão hedionda. O sangue era o seu avatar e o seu selo - o vermelho e o horror do sangue. Eram as dores agudas e as súbitas vertigens e depois as profusas hemorragias pelos poros, com a consequente dissolução das pessoas. As manchas escarlates por sobre o corpo e especialmente sobre o rosto da vítima eram a bandeira da peste que lhe fechava todas as portas do auxílio e da simpatia dos seus semelhantes. E a contracção da doença, o seu avanço e a sua conclusão fatal resumia-se a uma questão de meia hora.
Mas o Príncipe Prospero era feliz, intrépido e perspicaz. Quando os seus domínios estavam já meio despovoados chamou à sua presença um milhar de amigos saudáveis e alegres de entre os cavaleiros e as damas da sua corte e retirou-se juntamente com eles para a profunda reclusão de uma das suas abadias acasteladas. Era um edifício enorme, esplendoroso, criação do próprio gosto excêntrico, porém majestoso, do Príncipe. Estava rodeada de uma muralha forte e grandiosa com portões de ferro. Depois de entrarem, os cortesãos serviram-se de fornalhas e martelos e soldaram os fechos. Resolveram barricar-se contra súbitos impulsos de desespero exterior e impedir qualquer saída aos frenesis do interior. A abadia foi amplamente abastecida. Com tais precauções os cortesãos bem podiam lançar o desafio ao contágio. O mundo exterior que se arranjasse como pudesse. Entretanto, era um disparate as pessoas afligirem-se ou pensarem. O príncipe tinha fornecido todos os acessórios de prazer. Havia bobos, havia repentistas, havia bailarinas, havia músicos, havia Beleza, havia vinho. Lá dentro havia tudo isto e a segurança. Lá fora era a 'Morte Vermelha'por toda a parte.
Foi nos fins do quinto ou sexto mês de reclusão, e quando a peste lá fora andava mais violentamente enfurecida, que o Príncipe Prospero, para entretenimento dos seus milhares de amigos, organizou um baile de máscaras do mais invulgar esplendor.
Foi um espectáculo voluptuoso, aquela mascarada. Mas primeiro deixem-me falar-vos das salas onde se realizou. Eram sete, uma série imperial. Em muitos palácios, contudo, estas séries constituem longas galerias quando as portas recolhem para as paredes de ambos os lados, de modo que a visão de toda a extensão é quase completa. Aqui o caso era muito diferente; como era de esperar do gosto do duque pelo bizarre. Os salões estavam dispostos de maneira tão irregular que a visão quase só abrangia um de cada vez. De vinte ou trinta em vinte ou trinta metros havia um súbito desvio e depois de cada cotovelo um novo efeito. Para a esquerda e para a direita, no meio de cada parede, uma janela gótica alta e estreita abria-se para um corredor fechado que acompanhava os meandros da série. Estas janelas tinham vitrais, cujas cores variavam de acordo com a tonalidade prevalecente nas ornamentações da sala para que se abriam. A do extremo oriental, por exemplo, era azul - e azuis vivas eram as janelas. A segunda sala era de cor púrpura nas suas decorações e tapeçarias e aqui de cor púrpura eram os vitrais. A terceira era toda verde e verdes eram também as janelas. A quarta estava decorada e era iluminada por uma janela cor de laranja - a quinta, branca - a sexta, violeta. A sétima sala estava rigorosamente coberta de tapeçarias de veludo preto que pendiam de todo o tecto e desciam pelas paredes e caíam em pesados folhos sobre uma carpete do mesmo material e tonalidade. Mas só nesta sala as cores das janelas não correspondiam às decorações. As vidraças aqui eram escarlates - uma intensa cor de sangue. Ora em nenhuma destas sete salas, por entre aquela profusão de ornamentos dourados que estavam espalhados por aqui e por ali ou pendentes do tecto, havia qualquer candeeiro ou candelabro. Não havia luz de qualquer espécie, de candeeiro ou de vela dentro daquela série de salas. Mas nos corredores que as rodeavam, havia, em frente a cada janela um pesado tripé com uma braseira brilhante que projectava os seus raios através do vidros pintados e assim iluminava a sala de uma maneira ofegante. E assim se produzia uma quantidade de efeitos espalhafatosos. Mas na sala ocidental ou sala negra o efeito da luz do fogo que fluía sobre as escuras tapeçarias através das vidraças cor de sangue era extremamente sinistra e emprestava um efeito tão estranho à expressão daqueles que lá entravam que poucos do grupo dos dançarinos havia que se atreviam a pôr o pé dentro daquele recinto mágico.
Era também nesta sala que se encontrava, encostado à parede poente, um gigantesco relógio de ébano. O seu pêndulo balançava de um lado e para o outro com um tique-taque lúgubre e monótono; e quando o ponteiro dos minutos completava uma volta ao mostrador e o relógio ia dar as horas, dos seus pulmões de latão saía um som claro e alto e extremamente musical, mas também com uma nota e uma ênfase que, a cada lapso de uma hora os músicos da orquestra se viam obrigados a fazer uma pausa momentânea na sua execução para escutar aquele som; e assim os que andavam a valsar eram forçados a parar as suas evoluções; e havia uma certa confusão em todo o alegre grupo; e enquanto as badaladas continuavam a soar observava-se que os mais levianos empalideciam e os mais idosos e mais calmos passavam a mão pela testa como se num confuso sonho ou meditação. Mas depois de os ecos cessarem completamente, um leve riso perpassava logo por toda a assembleia; os músicos olhavam uns para os outros e sorriam como se do próprio nervosismo e alegria, e faziam votos sussurrados uns aos outros de que as badaladas seguintes do relógio não lhes produziriam tal emoção; e depois do lapso de sessenta minutos (que contêm três mil e seiscentos segundos do Tempo que voa), vinham mais badaladas do relógio e depois a mesma confusão e tremor e meditação como antes.
Mas, a despeito destas coisas, era uma festa alegre e majestosa. Os gostos do duque eram muito peculiares. Tinha um belo olho para as cores e os efeitos. Ignorava a decora da mera moda. Os seus planos eram temerários e impetuosos, e as suas ideias brilhavam com um fulgor bárbaro. Alguns pensariam que ele era louco. Os seus cortesãos sentiam que não. Mas era preciso ouvi-lo e vê-lo e tocá-lo para se ter a certeza de que não era.
Foi ele que em grande parte orientou o embelezamento do mobiliário das sete salas para esta grande fête; e foram os seus próprios gostos que caracterizaram os mascarados. Podem ter a certeza de que eram grotescos. Havia muito brilho e esplendor e picante e fantasia - muito daquilo que desde então se tem visto em 'Hermany'. Havia figuras verdadeiramente grotescas com membros e formas incongruentes.
Havia fantasias delirantes tais como as da loucura. Havia beleza, licenciosidade, e muito de bizarre, algo do terrível e não pouco daquilo que provocava nojo. De um lado para o outro, nas sete salas como que vagueava de facto uma quantidade de sonhos. E estes - os sonhos - contorciam-se tomando a tonalidade das salas e fazendo com que a música estranha da orquestra parecesse o eco dos seus passos. E daqui a pouco tempo lá toca o relógio de ébano no hall do veludo. E então, por momentos, tudo fica parado e tudo é silêncio excepto a voz do relógio. Os sonhos ficam paralisados, como que gelados, onde estão. Mas os ecos das badaladas esvaem-se - duraram apenas um instante - e um leve riso meio reprimido soa depois delas quando se vão. E agora a música aumenta e os sonhos revivem e vagueiam para um lado e para o outro mais alegremente que nunca tomando as cores dos variegados vitrais através dos quais correm os raios dos tripés com o fogo. Mas para aquela sala que das sete fica mais para poente não há agora ninguém que se atreva a ir; pois a noite começa a dissipar-se; e lá flutua uma luz mais avermelhada através das vidraças cor de sangue; e o negro das lúgubres tapeçarias horrorizam; e àquele que põe o pé sobre a lúgubre carpete chega, vindo de perto do relógio de ébano um toque mais solenemente enfático do que quaisquer daqueles que alcançam os ouvidos dos que se entregam às alegrias mais remotas das outras salas.
Mas estas outras salas estavam densamente povoadas e nelas o coração da vida batia febrilmente. E a festa continuava a girar até que finalmente começaram a soar as badaladas da meia-noite no relógio. E então a música calou-se, como já disse; e o rodopiar dos valsadores parou; e houve uma inquieta cessação de todas as coisas, tal como antes. Mas agora eram doze as badaladas que soariam no relógio; e assim, aconteceu talvez que, com mais tempo, mais pensamento se instalou nas meditações dos pensativos de entre aqueles que se divertiam. E também assim aconteceu talvez que antes de os ecos das últimas badaladas terem completamente mergulhado no silêncio, muita gente do grupo teve ocasião de notar a presença de uma figura mascarada que ainda não tinha chamado a atenção de ninguém. E tendo-se espalhado em sussurros o rumor desta nova presença, ergueu-se finalmente de toda a companhia um burburinho, ou um murmúrio, que exprimia censura e surpresa - e por fim terror, horror e nojo.
Numa reunião de fantasmas como a que eu descrevi, pode-se facilmente imaginar que só uma aparição extremamente invulgar poderia suscitar tal sensação. Na verdade, naquela noite quase todas as máscaras eram permitidas, mas a figura em questão tinha ultrapassado a própria extravagância de Herodes e tinha ido mesmo além das fronteiras do indefinido decoro do príncipe. Há cordas nos corações dos mais cruéis que não se deixam tocar sem emoção. Mesmo para aqueles que estão completamente depravados e para quem a vida e a morte são igualmente objecto de gracejos, há questões com que não se pode brincar. Todo o grupo parecia de facto agora sentir bem fundo que não havia no vestuário e na postura daquele estranho nem gosto nem decoro. A figura era alta e magra e estava amortalhada dos pés à cabeça. A máscara que lhe ocultava o rosto imitava de tal maneira a expressão hirta de um cadáver que o mais minucioso exame teria dificuldade em detectar o artifício. Porém tudo isto podia ter sido aceite, e mesmo aprovado, pelos alegres libertinos. Mas o mascarado chegara ao ponto de adoptar o tipo da Morte Vermelha. As suas vestes estavam salpicadas de sangue - e a sua larga testa, com todos os traços do rosto, estava coberta de pingos do horror escarlate.
Quando os olhos do Príncipe Prospero caíram sobre esta imagem espectral (que com um movimento lento e solene, como que para melhor sustentar o seu rôle, caminhava de um lado para o outro por entre os valsadores) viram-no abalado nos primeiros momentos, com forte arrepio de terror ou de repugnância; mas logo a seguir a testa ficou-lhe vermelha de raiva.
“Quem é que se atreve - perguntou ele em voz rouca aos cortesãos que estavam perto de si - “quem é que se atreve a insultar-nos com esta macaquice blasfema? Agarrem-no e desmascarem-no - para que possamos saber quem é que teremos de enforcar nas ameias ao nascer do sol!”
Foi na câmara nascente ou azul onde se encontrava que o Príncipe Prospero pronunciou estas palavras. Elas soaram fortes e claras por todas as sete salas, pois o príncipe era um homem impetuoso e robusto e a música tinha-se calado a um sinal da sua mão.
Era na sala azul que o príncipe se encontrava rodeado de um grupo de pálidos cortesãos. Primeiro, quando ele falou, houve um ligeiro movimento precipitado deste grupo em direcção ao intruso, que nesse momento, estava também muito próximo e agora, com um passo determinado e pomposo se aproximava do príncipe. Mas por um certo terror inominado com o qual a audácia louca do mascarado tinha inspirado todo o grupo, não houve nenhum que estendesse o braço para o agarrar; e assim desimpedido o caminho ele passou a uma jarda da pessoa do príncipe; e, enquanto a vasta assembleia, como que num só impulso, se afastava dos centros das salas para as paredes, ele continuava sem obstáculos, mas no mesmo passo medido e solene que logo o distinguira no princípio, da sala azul para a vermelha - da vermelha para a verde - da verde para a cor de laranja - desta outra vez para a branca - e mesmo daqui para a violeta, sem que um só movimento determinado se tivesse desenhado para o prender. Foi então, contudo, que o Príncipe Prospero, louco de raiva e de vergonha da sua própria cobardia momentânea, se precipitou apressadamente pelas seis salas, sem que ninguém o seguisse pois um terror mortal tinha-os invadido a todos. Brandia um punhal desembainhado e aproximara-se com rápida impetuosidade até cerca de um metro da figura que recuava, quando esta, chegada ao extremo da sala de veludo, se voltou subitamente para confrontar o seu perseguidor. Ouviu-se um grito agudo, e o punhal caiu a brilhar sobre a carpete negra onde, instantes depois, o Príncipe Próspero caiu morto. Então, reunindo a violenta coragem do desespero um grande grupo de mascarados precipitou-se para a sala negra e agarrando o intruso, cuja alta figura continuava erecta e imóvel na sombra do relógio de ébano, e ficaram todos aterrorizados ao descobrir que a mortalha e a máscara de cadáver, que eles tinham agarrado com rudeza e violência, não continha qualquer conteúdo humano.
E assim se reconheceu a presença da Morte Vermelha. Tinha vindo de noite como um ladrão. E um a um, todos os mascarados caíram nas salas onde se divertiram, agora inundadas de sangue, e todos morreram na postura desesperada da sua queda. E a vida do relógio de ébano finou-se com a do último dos mascarados. E as chamas dos tripés extinguiram-se. E as Trevas e a Ruína e a Morte Vermelha estabeleceram o seu domínio ilimitado sobre todas as coisas.

Edgar Allan Poe

(Apeteceu-me este conto...emcontrei-o on- line)

Frioleiras disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Frioleiras disse...

Vermelho com um fundo azul...
Vermelho de make up, de lábios...
Azul de paz, de harmonia, do antever de um "encontro"...
... Adoro !
Adoro make up...
Adoro "objectos" femininos...
Adoro baton
Adoro make up

...adorei a fotog....

[A] disse...

Eu ainda não percebi....:(

intruso disse...

M.
(...esse conto é incrível! um dos meus favoritos de Poe)